Era só mais uma tarde ensolarada da década de 40.
O sol beijava minha pele de um modo suave deixando a levemente corada.
O vento batia em meu rosto com sua força e impaciência.
O tédio mortal de um domingo sem nada de especial me castigava.
Meus olhos cansados da minha triste rotina vasculhavam a rua em busca de algo novo.
A juventude brotava de minha alma dando me um brilho a mais no rosto de boneca.
Minhas mãos delicadas brincavam com a barra de meu vestido branco.
Meus pés dançavam uma valsa bem lenta quase que sem movimentos.
Minha respiração começava a ficar lenta e minhas pálpebras pesavam toneladas.
Apoiando meus braços na sacada tentava sem muita vontade manter-me acordada.
Um rapaz surgiu na esquina, alto e elegante com seu chapéu azul marinho que ameaçava ser levado pelos ventos fortes que persistiam em brincar com todas as pessoas da cidade.
O crepúsculo aproximava-se.
Percebi que meu sono havia sumido após olhar longamente para o rapaz que com passos devagares aproximava-se de minha casa.
Um vento mais forte fez com meu vestido levantasse alguns centímetros e fez também com que o chapéu do rapaz voasse e parasse em frente a minha sacada.
Pequenas borboletas voavam dentro de meu estômago fazendo cócegas.
O rapaz apanhou o seu chapéu e com o cuidado de quem não quer ser pego olhou de canto para mim com um sorriso doce e olhos profundos.
Sem jeito sorri com os olhos para ele.
Meu rosto estava em chamas e eu sabia que estavam vermelhas as minhas bochechas já rosadas pelo carmim.
- Boa tarde. - Disse o rapaz com uma reverência.
- Boa tarde. - Respondi.
Ele se afastou sorrindo e eu acompanhei cada passo dele com meu olhar.
Não foi a conversa mais longa mas foi a mais prazerosa e tudo o que eu pensava era naquele olhar profundo e místico.
Eu não sabia seu nome, seu endereço e isso também não me incomodava pois eu sabia o mais importante.
Eu sabia que era ele.
15 de setembro de 2010 às 09:37
Que apaixonante esse post! O final foi perfeito...
" ...eu sabia o mais importante.
Eu sabia que era ele"
Amei*