Uma Chama Apagada (parte 1)

Eu sabia que tudo aquilo era uma grande bobagem, sabia também que deveria obdecer meu cérebro que gritava para eu dar meia volta e retornar mas retornar para onde ele não dizia.
Minhas pernas tremiam e isso fazia os sapatos de salto baterem desajeitados no piso de madeira.
O suor escorria pela minha nuca e ensopava a minha blusa vermelha que já era colada ao corpo.
Meus lábios estavam secos e a garganta áspera.
Nas mãos dedos trêmulos e unhas douradas e impecáveis.
Era agora ou nunca!
Um frio repentino me cobriu de medo.
- Nunca! - Pensei.
Mas meu corpo não obdecia mais, eu precisava continuar.
A fera dentro de mim ronronava vitoriosa por ter esmagado a gatinha inocente que antes ali habitava.
20 passos.- Contei mentalmente.
- Não posso prosseguir. Tentei me convencer, não preciso dizer que foi perda de tempo não é mesmo?
- Você sempre quis isso! Vai voltar atrás? Voltar para onde e por qual motivo? O que temos a perder?- Essa fera era terrível.
A luz estava baixa e a música lenta.
- Desculpe. - Um garoto louro e baixo esbarrou em mim com seu copo de vinho tinto.
- Tudo bem, eu acho. - Não estava disposta a discutir coisas tão banais.
- Espere, te pago um drink para me desculpar. - Ele sorriu como os cafajestes quando encontram uma vítima.
- Obrigada. Não quero nada de você além de distância. - Não tinha tempo para ser uma moça educada.
- Tudo bem, você não vale mesmo tanto a pena. - Ele me olhou com o desprezo de quem quer e não pode ter.
Sorri com o cuidado de deixar os dentes a mostra indicando uma fúria que brotava em meus olhos.
- Calma, você tem assuntos para resolver. - Disse baixo para mim.
10 passos e lá estava eu diante de tudo e sem ter nada.
Ele virou o rosto em minha direção no momento em que sentiu meu perfume adocicado preencher aquela pequena distância que nos separava.
Seu rosto se contorceu em uma careta de incredulidade.
Mas porque? - Tentei entende-lo.
Ele respirava profundamente como se estivesse pegando no sono.
Seria isso possível à aquela altura dos acontecimentos?
Com a suavidade e precisão de um bêbado pousei em seu ombro minha mão.
Ele sorriu em reconhecimento ao meu toque.
E lá estavamos nós, um de frente para o outro, nos olhos a emoção do reecontro e eu só pensava porque estava com tanto medo.
Ele levantou e com seu jeito único me envolveu em um beijo inebriante.
Fecho os olhos e sinto o gosto que tanto senti falta.


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